No início do ano, a Escócia tornou-se a primeira região do Reino Unido a aprovar uma lei para garantir pelo menos 50% dos postos diretivos de todas as instituições públicas para mulheres. Tal meta deve ser atingida até 2022 e ela alcança a polícia, bombeiros, colégios, universidades e outras instituições.
A notícia ganha destaque num momento de grandes debates sobre igualdade de gênero e desigualdade salarial. A ministra de Igualdade do Executivo escocês, Angela Constance, disse que o objetivo é: "corrigir a escassa representação das mulheres nos conselhos públicos" para assegurar que suas vozes "deem forma às decisões que tomam" e que tenham um impacto sobre os serviços públicos.
Se o país que possui um dos mais altos IDH global, que tem a segunda economia mais forte do Reino Unido e que foi a primeira cidade do mundo a ser declarada Cidade da Literatura precisou editar uma lei para corrigir distorções de oportunidades às mulheres, temos que nos dar conta de que a desigualdade de direitos entre os gêneros ainda está muito presente na sociedade.
Há um tempo, foi publicada no site do MEC a pesquisa Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Essa pesquisa concluiu que 93,5% dos entrevistados têm preconceito de gênero. Com relação à intensidade, o preconceito com relação ao gênero liderou a pesquisa com 38,2% dos entrevistados e concluiu que isso parte do homem com relação à mulher.
Por sua vez, no final de 2017, o Fórum Econômico Mundial publicou em seu Relatório de Desigualdade Global de Gênero que o Brasil, depois de uma década de progresso lento, porém contínuo, em direção à igualdade de gênero, constatou aumento das disparidades entre homes e mulheres. Por causa da queda da participação feminina na política, o Brasil caiu 11 posições em apenas um ano. Todos os quatro pilares do relatório apresentaram piora na comparação entre homens e mulheres: acesso à educação, saúde e sobrevivência, oportunidade econômica e empoderamento político. Pelo cálculo do último relatório, serão necessários 100 anos para acabar com a desigualdade de gênero em todo o mundo.
Tais resultados apenas ratificam o fato de que a luta contra o preconceito e a discriminação deve ser diária. Não obstante as importantes conquistas na luta pelos direitos das mulheres, ao longo dos anos, elas ainda são vítimas de preconceito, há muito para ser alcançado e a escola é um importante espaço para a discussão do tema.
As leis que oportunizam espaços à mulher, por si só não trazem a garantia de que o direito será respeitado, porém é mais fácil fazer valer tal direito quando ele já está legitimado. A publicação de novas leis concedendo direitos à mulher abre espaços para os debates, o que oportuniza o conhecimento das mesmas e auxilia na redução da discriminação.
A ampliação do diálogo na construção de relações sociais, com a ampliação de ações de combate ao preconceito e de respeito à diversidade, contribuirá na formação de cidadãos e de uma sociedade mais democrática, com igualdade de oportunidades a todos os gêneros.